Da mesma forma a que se assiste ao furor de uma tempestade, se poderia assistir ao crescimento dos cabelos de alguém, caso houvesse tempo. Nesse sentido, Ìgbà vai contra a tendência de aceleração contemporânea propondo justamente o inverso: TEMOS TODO O TEMPO DO MUNDO PARA PERCEBER O AGORA. Esta percepção distinta se originou de uma aproximação com uma cosmovisão que estabelece uma outra relação com a natureza, o corpo, o tempo e o conhecimento. Descolonizando nossas perspectivas e desacelerando nosso movimento, a persistência física (do performer) e a persistência retiniana (do espectador) geram uma experiência na qual a percepção constrói, através do seu exercício pleno, uma realidade física baseada na forma do corpo do outro, no som e na imagem do espaço.

A palavra Ìgbà, de origem yorubá, foi escolhida por exprimir tempo, momento ou época. Pode, ainda, significar cabaça ou recipiente em que se guarda o assentamento de um Orixá, designando, assim, a representação material e ao mesmo tempo etérea de uma força da natureza. Essa inspiração condiz com o processo criativo pelo qual o Coletivo Moebius passou e vem passando: desde o início atravessado e informado pela visão africana de natureza, com sua riqueza de imagens, através das relações entre suas divindades e respectivas regências sobre os quatro elementos da natureza em suas combinações.